7º Dia - A Terra e a Intimidade
"Quando peguei o livro "A transformação da intimidade", fique muito curiosa com o título. Mas foi o livro mais esquisito da prateleira. Não li o livro atentamente, mas folheando achei ele muito analítico. Um pouco triste até, dada a potência poética do recorte.
Tive uma conversa boa com Hugo no rio. Olhos nos olhos, revelamos expectativas. A verdade de olhar alguém no olho. Amansar feras, projeções. Empatia, alteridade. O tal do outro como eu. Me senti contemplada na conversa, vista como mulher inteira.
Daí a dança nos EVAs. Mais pele no corpo, cantos. Dança contato. Liberdade de passear pelo corpo de alguém com quem convivo. A dança dos pequenos espaços, as quinas do corpo, brincar com o peso.
Mas intimidade não é coisa fácil. A intimidade é uma exposição tamanha, constante revelação. A intimidade revela os poderes, os jogos, as tiranias pequenas. Revela as grandes doações, o coração aberto, o sorriso no rosto. O coração fechado e os nomes na parede. Intimidade é exposição, é pior que Facebook. É saber que você não foi no banheiro hoje. O gosto que tem a pele a lambidas. A exposição ao risco, ao medo do fracasso. A falha constante no mesmo lugar. A intimidade anda de mãos dadas com o tempo. Só o tempo pode abrir as portas da intimidade. O tempo, amigo e vilão, que esculpe as pedras em relação. A água constante que cai e molda as pedras. A areia do mar que já foi pedra. Sal e areia, tão íntimos quanto o tempo e a intimidade do mar.
Íntimo, mas não sexual. O portal para o desconhecido. O corpo do outro. O corpo para além da genitália. O sexo para além dos códigos. Tudo aquilo que ensinaram pra gente que é sexo. O sexo de cada um. O sexo que cada um inventa pra si. O sexo que não cabe nas letras. Corpo sem sexo? Corpo assexuado de ação, mas nunca de potência.
Intimidade e potência. A força motriz do mundo. O desejo. A curiosidade pelo corpo do outro. Abrir alí uma nova porta
de descoberta. A potência do gesto mínimo. O gosto íntimo. A força desejante da potência da intimidade compartilhada..."
Privada seca
Vista da privada seca
Plantando utopias
Corre calma Severina noite
Debaixo do lençol que te tateia a pele fina
Pedras sonhando pó na mina
Pedras sonhando com britadeiras
Cada ser tem sonhos a sua maneira
Cada ser tem sonhos a sua maneira
Corre alta Severina noite
No ronco da cidade uma janela assim acesa
Eu respiro seu desejo
Chama no pavio da lamparina
Sombra no lençol que tateia a pele fina
Sombra no lençol que tateia a pele fina
Ali tão sempre perto e não me vendo
Ali sinto tua alma flutuar do corpo
Teus olhos se movendo sem se abrir
Ali tão certo e justo e só te sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir
Corre solta suassuna noite
Tocaia de animal que acompanha tua presa
Escravo da tua beleza
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Daqui a pouco o dia vai querer raiar
Onde tinha a antiga privada seca